Auto-entrevista
UMA EXCLUSIVÍSSIMA ENTREVISTA
DE NÓS COM NÓS MESMOS ;)
SOBRE O BLOCO
NÓS: Como surgiu o bloco Escravos da Mauá?
NÓS: Porque um bloco?
NÓS: Quais as propostas
iniciais?
NÓS: Por que o nome "Escravos da Mauá"?
SOBRE O LUGAR
NÓS: O que há de especial na história do bairro da Saúde?
NÓS: E a Pedra do Sal?
NÓS: Por que o Largo se chama S. Francisco da Prainha?
SOBRE AS
RODAS DE SAMBA
NÓS: Sempre houveram as rodas de samba mensais?
NÓS: Quem bancava os eventos e o desfile? Havia algum patrocínio?
SOBRE O CARNAVAL
NÓS: Como são escolhidos os sambas do Escravos da Mauá?
NÓS: Quem são as estrelas do Bloco Escravos da Mauá?
NÓS: Afinal, aonde quer chegar o Bloco Escravos
da Mauá?
NÓS MESMOS: Ele surgiu pouco antes do carnaval de 1993. Foi uma ideia de amigos que trabalhavam no INT (Instituto Nacional de Tecnologia, perto da Praça Mauá) e que queriam contribuir com a região através de alguma atividade cultural, estimulados por eventos, principalmente musicais, que começaram a brotar em outras partes do centro da cidade.
NÓS MESMOS: Sendo frequentadores dos blocos que retomaram o Carnaval na zona sul, alguns de nós já tinham participado de concursos de sambas para outros grupos, mas, como nunca ganhamos, o único jeito foi fazer um bloco pro nosso samba.
NÓS MESMOS: Escolhemos as cores (azul e amarelo) e fizemos uma festa de fundação, cuja ata foi solenemente assinada na ocasião por cerca de 150 pessoas. Era a maior diretoria de bloco do planeta! Sonhávamos com um bloco formado por amigos, amigos dos amigos e o pessoal que trabalha, mora ou passa por ali. E que os sambas do bloco lembrassem a riquíssima história da região e de seus personagens, sempre de uma forma positiva, alegre e bem humorada.
NÓS MESMOS: Ali perto, onde hoje é a rua Camerino, ficavam os mercados de escravos nos séculos XVIII e XIX. Um local que é uma herança de dor e um símbolo de apagamento pela discriminação de cor da pele. Fizemos uma votação entre vários nomes sugeridos e no final o mais votado foi Escravos da Mauá, primeiro porque não deixava a história cair no esquecimento e ao mesmo homenageava também as centenas de funcio-nários que trabalham até hoje nas instituições públicas e privadas que foram instaladas na região depois da modernização do Porto do Rio de Janeiro, no final dos anos 1960. Um bloco formado por funcionários públi-cos em tempos de recessão – daí para a escolha do nome foi um pulo!!
NÓS MESMOS: A história dos bairros portuários cariocas é a história do próprio Rio de Janeiro, embora a maioria dos cariocas não a conheça a fundo. É preciso lembrar que, depois da abolição, os ex-escravizados e grupos de negros baianos que vieram para o Rio se fixaram no bairro da Saúde, em busca de trabalho no porto e moradia barata e foi aí que o morro da Favela - atual Providência - emprestou seu nome ao tipo de moradia que hoje se espalha por toda a cidade. Esses bairros foram apelidados pelo sambista Heitor dos Prazeres de “a Pequena África” no Rio de Janeiro.
Além de toda a questão da cultura negra, estão ali as raízes do choro, do samba, dos ranchos e do carnaval popular. E ainda temos a história da Rádio Nacional nos tempos de ouro do rádio; a fabulosa Praça Mauá e histórias como a da Revolta da Chibata no porto, cujo líder - João Cândido, o Almirante Negro - foi lindamente homenageado por João Bosco e Aldir Blanc no samba "Mestre-sala dos Mares".
A arquitetura é um capítulo à parte, pois temos belos exemplares do início do século XX no Morro da Conceiçao, que convivem com construções do século XVIII, como a Fortaleza da Conceiçao, além do Mosteiro de S.Bento e das diversas Igrejas, a maioria no topo dos morros - do Livramento, da Providência e do Pinto. Todas essas memórias já foram cantadas nos sambas dos Escravos da Mauá, mas sempre falta falar de muita coisa...
NÓS MESMOS: A Pedra do Sal é um lugar simbólico e místico, com degraus escavados, por onde se pode subir para o Morro da Conceição. Ela conta um capítulo da história de convivência da cidade com a escravidão e hoje representa muito para os amantes do samba e do choro. Já foi, inclusive, considerada o núcleo da chamada "Pequena África, hoje deslocado para o Cais do Valongo, encontrado após as escavações arqueológicas na região. No passado, o em torno da Pedra do Sal era repleto de zungus, casas coletivas ocupadas por negros escravos e forros. Ali se reuniam Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Heitor dos Prazeres - precisa dizer mais? Tudo isso fica a 100 metros do Largo de São Francisco da Prainha, local escolhido pelos fundadores do bloco para se reunirem e de onde partiram seus cortejos.
NÓS MESMOS: Antes da construção do Porto, no início do século XX, o mar batia no muro branco da Igreja de S. Francisco da Prainha, que existe até hoje, na rua Sacadura Cabral. A atual Praça Mauá, urbanizada na mesma época, ocupa a região que era conhecida como Prainha. A rua do Acre, que já fez parte do trajeto do bloco, era o Caminho da Prainha.
NÓS MESMOS: Até 1997, nós nos reuníamos apenas de novembro a fevereiro, para os ensaios do samba do bloco, que eram animados pelo ainda-não-famoso-mundialmente "Fabuloso Grupo Eu Canto Samba" (que aliás ainda nem tinha esse nome...). Frequentadora e assídua e quase fundadora (hoje fundadora emérita!) a cavaquinhista amadora Eliane Costa teve a ideia de começar um calendário de encontros na última sexta de cada mês e ainda trouxe vários amigos, todos músicos amadores. O sucesso desses encontros (ainda mais porque todos queriam conhecer o lugar que, sendo em pleno centro do Rio, parecia um subúrbio) nos levou a manter as rodas fora do período pré-carnavalesco e foi o que se viu: um montão de gente. Tanta, que, a dada altura nos obrigou a modificar o plano inicial: as rodas passaram a ser avisadas por boletins, por e-mail e correio. Atuando na contra-mão do sucesso “viral”, costumávamos dizer, de brincadeira, que queríamos que, na cidade "Só se falasse em outra coisa"...
NÓS MESMOS: A saída do bloco, no carnaval, até 2005 era bancada unicamente pela venda das camisetas. A partir de 2006, a Sebastiana, a associação dos blocos da Zona Sul, Centro e Santa Teresa, à qual o bloco é filiado, começou a atuar como captadora de recursos culturais. Os recursos captados mais a venda das camisetas vão para o pagamento da confecção, gráfica, carro de som, bateria, ritmistas, carro pipa, balões e fogos de artifício, oficinas de preparação para o abre-alas, figurinos, confecção de adereços e chapéus, etc...
NÓS MESMOS: O samba de estreia foi composto pelo idealizador do bloco, Ricardo Costa, e é um verdadeiro samba-enredo: "Navio Negreiro" é uma analogia entre o navio que chegava com os escravos para o mercado e os outros navios, que mais tarde, passaram a trazer os gringos e os marinheiros, para a alegria das meninas da Praça Mauá. A partir daí, a Velha Guarda da Ala dos Compositores era convocada em caráter emergencial para “parir” um samba coletivo, com um prazo de várias horas de antecedência (em geral, 24). Nada impediu até hoje, no entanto, que, qualquer pessoa que tenha uma ideia de letra ou de tema musical se integre ao samba coletivo, o que já aconteceu diversas vezes, fazendo a referida Ala dos Compositores crescer a cada ano... Em 2010, iniciou-se um ciclo chamado Ala Jovem da Velha Guarda da Ala de Compositores, que produziu 5 lindos sambas de enfiada para o bloco, nos carnavais de 2011 a 2016.
Por razões de ordem psico-social-geográfica, ao contrário da maioria dos blocos (que fazem concurso de samba e convidam um artista pra fazer a estampa da camiseta), o bloco tentou priorizar o concurso de desenhos para a camiseta e, cá para nós, dois concursos no mesmo carnaval dá muito arranca-rabo, ninguém merece!
NÓS MESMOS: Nossas estrelas estão na rua, na praça. Estão presentes na voz da nossa puxadora Claudia Baldarelli; no rodopio das porta-bandeiras Izair e Débora, dançando com seus mestre-salas Alexandre e Fernando; na beleza dos movimentos e figurinos cuidadosamente ensaiados pela Cia de Mysterios e Novidades para o nosso abre-alas; nos fogos de artifício oferecidos, no início do desfile, pelo pessoal do Morro da Conceição e acionados pelo Ciley, irmão do saudoso Juarez, na bateria do mestre Penha, no cavaquinho da Eliane, no surdo do Salek, no pandeiro do Pedro, nas cordas e na percussão do "Fabuloso Grupo Eu Canto Samba", na presença assídua e animada dos moradores da região, na alegria das cabrochas, na força das novas gerações de empreendedores sociais como o Raphael Vidal. Nossas estrelas são a amizade, a música e a militância. O Largo da Prainha é um chão de estrelas.
Por razões de ordem psico-social-geográfica, ao contrário da maioria dos blocos (que fazem concurso de samba e convidam um artista pra fazer a estampa da camiseta), o bloco tentou priorizar o concurso de desenhos para a camiseta e, cá para nós, dois concursos no mesmo carnaval dá muito arranca-rabo, ninguém merece!
NÓS MESMOS: O Escravos da Mauá não tem um fim, o bloco é um meio para a ocupação positiva do espaço público. Um meio para a cidade igualitária que queremos, para um espaço onde se possa estar próximo da diversidade, preto com branco, sambista de berço com sambista amador. Gente consciente, quando se junta, faz coisas mais importantes do que pode prever a nossa vã filosofia e sem planejar, viramos parte da história da cidade.
Amizade é o
melhor remédio...
Este projeto foi contemplado pelo edital Cultura do Carnaval Carioca e realizado em parceria com muitas mãos. Dedicamos esse espaço para agradecer a todos os nossos foliões e a alguns nomes em especial.
Agradecemos eternamente:
Alexandre Guedes
Alice Ferraz
Ana Araujo
Ana Oliveira
Andréa Lessa
Angela Melo
Bernardo Niquet
Branca Oliveira
Cacilda Barreto 🌹
Carla Villardo
Carlos Alberto Carlão
Carolina Costa
Chico Tâmega
Cida Neves
Ciley Felix
Clarinha Barbosa
Claudia Baldarelli
Claudius Ceccon
Consuelo Gicovate
Cristina Lemos
Débora Rezende
Décio Daniel
Deilton França
Dona Léa 🌹
Edi Marinho
Eduardo Mizutani Mizu
Eduardo Rua
Eliane Costa
Eric Fuly
Fernando Braga
Flavio Feitosa
Izair Costa Zazá
Jacque Pires
Jeferson Santos
João Costa
Jorge Salek
José Maldonado
Julia Hett
Juliana Angelino
Juliana Costa
Lauro Mesquita 🌹
Leo Conrado
Ligia Morais
Lilian Siqueira
Lilian Vieira
Lilson Ferreira 🌹
Luciana Bonvino
Luiz Fernando Neném
Luiz Gama
Marcela Trigo
Marcelo Nicolas
Marcelo Prado
Marco Pessoa
Maria Bento
Maris Carlos
Marta Strauch 🌹
Miguel Costa
Miguel Diniz
Moacyr Luz
Monica Martha
Nicolau Mello
Octavio Dantas
Patricia Reinheimer
Paulo Eustáquio
Paulo Fraiz
Paulo Kneip
Pedro Curi
Pedro Duarte
Pedro Muller
Raul Silvestre
Ricardo Costa
Ricardo Mello
Rita Fernandes
Roberto Carlos
Rodrigo Habib
Rosita Schmidt
Sandra Martins
Teresa Guilhon
Thaís Chagas
Tiago Prata
Tomaz Miranda
Vinicius Vieira
Zé da Lata